sexta-feira, 1 de junho de 2018

O discurso de Zé Ninguém

Zé Ninguém queria
Ser ouvido no congresso
Escreveu um belo discurso
Mas não obteve sucesso
Porque logo souberam
Se tratar de um protesto

Antes de acabar o mundo
Zé Ninguém pensou:
Quem sabe eles ouçam
A voz do eleitor!
Ele era ingênuo
Eleitor não tem valor

Zé Ninguém e-mail até mandou
Pra meia dúzia de deputados
Mas ninguém lhe retornou
Teve seu discurso Censurado
A alternativa que lhe restou
Foi ter seu texto publicado

Ele criou um blog
E postou seu discurso
Divulgou na rede social
E logo tomou um susto
A repercussão foi nacional

Zé Ninguém em seu discurso
Disse somente a verdade
Aquilo que não querem ouvir
Pois se trata da calamidade
Em que está a política do país
Que em sua raiz é só maldade

Zé ninguém discursava
Em nome da igualdade
Que tanto idealizava
E pedindo dignidade
Pelo povo ele clamava
por Justiça e seriedade

Em seu discurso criticava
Os privilégios e altos salários
Que os parlamentares recebem
Se aproveitando do erário
Enquanto o povo recebe o mínimo
Salário medíocre e ordinário

Ele tocava o dedo na ferida
Do político que é desonrado
Que não tem respeito pela vida
Do cidadão que é explorado
Que dia após dia, luta e briga
Pra colocar comida no prato

Zé Ninguém pedia melhor educação
Salário digno ao professor
Que trabalha muito e sem condição
Defendendo o ensino com amor
Em escolas ruins e maltratadas
Sem prestígio e sem valor

Falava da saúde doente
Sem hospitais e médicos
Onde todo dia morre gente
Por falta de atendimento
Nessa situação indecente
Está o povo no sofrimento

Zé ninguém no fim sugeria
Que os políticos usassem
O serviço público do país
Para que eles provassem
Das mazelas que ele diz
E na pele comprovassem
A situação do povo infeliz

Ele também lembrava do povo
Que a muito tempo não protestava
Desde o impeachment do Collor
Quando muitos de caras pintadas
Saíram as ruas pedindo a saída
Daquele que ao povo enganava

Mas Zé Ninguém dias depois
Se deparou com uma grande surpresa
De repente o povo acordara
Saindo da inércia e da moleza
Resolvendo ir às ruas reclamar
Da corrupção e da pobreza

De repente o povo acordou
Então Zé Ninguém muito feliz
Assistindo a TV até chorou
Vendo o povo unido do seu país
Nas ruas como ele sonhou
Lutando como ele sempre quis

Zé Ninguém esperançoso
Começou até a acreditar
Que esse sistema duvidoso
Poderia talvez mudar
Através da força do povo
Que para ruas foi lutar

Junto com Zé Ninguém
Milhões esperam o mesmo
Que nosso povo viva bem
Com dignidade e respeito
Sem pobreza e sem desdém
Como a todos é de direito.

Giano Guimarães (Do livro "Politiquices")

Eleição no Brasil

Período de eleição é assim
Começa tudo com a convenção
Ali se organiza, se combina
E se cria a coligação

Os comitês ficam cheios
Será com que interesse?
Com de o partido apoiar
Ou um dinheirinho ganhar?
Talvez os dois, eu creio!

E no horário político 
Os candidatos usam a criatividade
Uns se fantasiam de super-herói
Outros choram de verdade
Apelam até pra Deus
Em nome da santidade

E aí vem a carreata
Nessa hora água vira gasolina
No posto ela se acaba
Mas a fila não termina
Todos querem um pouquinho
Do combustível da propina

Depois vem a passeata
É abraço e aperto de mão
Político tem que virar acrobata
Pra dar conta da adulação
Ainda tem os mau educados
Que de santinhos enchem o chão

E vão seguindo em frente
Nas casas batem nas portas
E dizem: conto com seu voto
E saem sorrindo e batendo
Aquele velho tapinha nas costas

É muro pintado pra todo lado
Bandeira agitada no sinal
É adesivo de candidato no carro
É propaganda em rede nacional
Tudo isso contribuindo pra danado
Com a poluição ambiental

Do debate na televisão
Não se aproveita nada
Só falta saírem na mão
De tanto trocarem farpas

E no palanque tem promessa
Tem reza, cantoria e oração
Discurso de todo jeito
Mentira lavada e enganação
Induzindo o povo ao erro
Na hora da votação

Então começa o discurso
Tem a palavra um sujeito
Com ar de homem direito
Segura o microfone na mão

Meus amigos e minhas amigas
Gente de minha nação
É com alegria e felicidade
Que me lanço nessa eleição
Conto com seu voto meu amigo
Venho lhe pedir com humildade
Sua confiança e colaboração
Pra melhorarmos a sociedade

Vou investir na educação
Incentivar os discentes
Aumentar a remuneração
E dar merenda decente
A essa grande população
Que tanto é carente

Vou dar casa popular
A saúde vai melhorar
Emprego vou gerar
A pobreza eliminar
Os buracos vou tampar
O pavimento vai chegar

E com a ajuda de deus conseguiremos
No fim conquistar essa vitória
Com seu voto contaremos
É sempre a mesma história
Que a cada dois anos vemos
Mas o povo não tem memória

Se tivessem lembrança
Não reelegiam político corrupto
E teriam mais desconfiança
Em época de eleição
Verificando a ficha
Dessa rama de ladrão.

Giano Guimarães (do livro "Politiquices")

O politiqueiro

Seu Verbalino desde cedo
Com política resolveu mexer
Seguindo os caminhos do pai
Da política decidiu viver

Foi estudar na capital
Sobre leis muito se inteirou
Mas voltando pra sua cidade
Em politicagem se formou

Nessa escola foi aluno aplicado
Seu primeiro cargo foi vereador
Com um discurso fino e aprumado
Convencia fácil o eleitor

Mas sua honestidade
Só ficava na teoria
Pois nos negócios da cidade
Só se via pioria

A exemplo de seu pai
Seu Verbalino fez carreira
Foi vereador, prefeito e deputado
E Senador é sua atual cadeira
Ficou conhecido por todo lado
Por sua tamanha roubalheira

Toda prática ruim ele fazia
Comprava voto e verba desviava
Empregava parentes a revelia
O povo carente sempre enganava
Prometia tudo e não cumpria

Seu Verbalino perseguia
O cidadão que nele não votava
Depois da eleição demitia
E no lugar outro colocava

Seu Verbalino não tinha consciência
Do prejuízo que ao povo trazia
Pois quando roubava levava à falência
Os serviços que população carecia

Tirava do povo a dignidade
A saúde, a educação e a moradia
Com arrogância e sem humildade
Fez politicagem até seu último dia

Mas um dia seu Verbalino adoeceu
E as pressas ao hospital correu
Chegando lá em coma permaneceu
E um sono profundo lhe acometeu

E num sonho seu Verbalino
Se viu um pobre trabalhador
Só ganhava um salário mínimo
Vivia labutando de pintor

Um dia precisou ir ao médico
Cinco filas ele pegou
E só um mês mais tarde
A consulta ele marcou

Viu a luta que era o SUS
E toda a peleja do cidadão
Que todo dia pede a Jesus
Muita saúde e proteção
Fazendo promessa e levando cruz
Pra não morrer por omissão

Sonhando, ainda viu o seu filho
Ir à escola sem nenhum tostão
Confiando na merenda
Que no colégio sempre dão
Mas nesse dia não teve
Nem um pedaço de pão

Nesse sonho ele morava
Na periferia da cidade
Ali na terra se pisava
Pois não havia pavimento
Esgoto e nem calçada
Só barro, poeira e esquecimento

Pois cimento pra politiqueiro
Não serve pra fazer calçamento
Mas vira grana é ligeiro
Pra comprar apartamento
E o povo continua no lameiro
Na rua do esquecimento

Depois deste sonho real
Verbalino acordou do coma
E na cama do hospital
Começou a sentir o sintoma
De uma crise existencial

Sentiu na pele o sofrimento
Do povo que o elegeu
Sentiu profundo arrependimento
Dos malfeitos que cometeu

Seu Verbalino se recuperou
E quis ter honestidade
Por um tempo até tentou
Fazer política de verdade
Mas do sonho ele esqueceu
E voltou pra politicagem

O final dessa história
Não tem como ser feliz
Tendo a politicagem como escória 
Da política deste país

Desses homens de coração duro
Nem Deus, sonho ou doença
São capazes de amolecer
Essa pedra que os sustenta

Queria muito que no final
A história fosse diferente
Que pagassem pelo mal
Que fizeram a toda gente

Mas a história sempre é igual
Politiqueiro sempre é inocente
E o povo por sinal
A votar nunca aprende
Elege sempre o marginal
Que o engana facilmente

Não adianta nem campanha
Para conscientizar o eleitor
Porque nessa pobreza tamanha
Voto vira objeto de valor

E o eleitor o vende barato
na medida da sua pobreza
Que para muitos não é nada
Mas que para ele é riqueza

E assim, os Verbalinos do Brasil 
Continuam a praticar 
A política desonesta
E teimam em maltratar
A pobre da ética
Não param de roubar
E o que nos resta
É apenas lamentar.

Giano Guimarães
(Poema "O Politiqueiro",do livro Politiquices)

Ridículo mundo

Ridículo
Mundo
Abismo
Profundo
Que gera
Fome
Neste vil
Cenário
Imundo
Tanta comida
No celeiro
Mas no mundo
Inteiro
Há fome
Enquanto isso
Uma parte
Consome
A outra parte
Não come
Apenas some
A riqueza
Do mundo
Que é de todo
Mundo
Pois apenas uns
Gatunos
Se apropriam
De tudo
Explorando
O pequeno
Destilando
Seu veneno
Enganando
A massa
Provocando
A desgraça
Da maioria
Que sustenta
A minoria
Que arrota
A alegria
Da barriga
Cheia,
Às custas
Da dor
Alheia
Ridículo
Mundo.


Giano Guimarães
(Poema "Ridículo Mundo",do livro Politiquices)

De baixo

Me perguntam de onde sou
Se da esquerda ou da direita
Se do centro ou da diagonal
Se do socialismo ou do capital

Digo que sou de baixo
Do chão que eles pisam
Do fundo do tacho
Do abismo que criam

Sou de baixo mesmo
Nascido no caos
Na fome e a esmo
Entre pedras e paus

Sou a mão de obra barata
O cachorro vira lata
Vitima da política ingrata
Desses homens de gravata

Sou do lado da razão
Penso com independência
Ando na contra mão
Da política da demência

Sou a pedra no sapato
Dos políticos canalhas
Sou aquele inconformado
Com os rasgas mortalhas

Sou a voz do indignado
Que ecoa diariamente
Que tenta ser calado
Sou o voto consciente

O politiqueiro despreza esse voto
Pois ama o bajulador
Que funciona por controle remoto
E depende de favor

Nem esquerda, nem direita
Me fazem caminhar
Somente minha consciência
É capaz de me guiar

Giano Guimarães

Política ilha

No coração do Brasil
está a política ilha
que de política vive
seu nome é Brasília

Não só de política vive
mas também de politiquilha
La se decide tudo
inclusive o que diz a cartilha

Nessa ilha ninguém é bobo
ali tudo se combina
quantas fatias terá bolo
e quem paga a gelatina

La se descasca o pepino
a batata e a tangerina
Se descasca até laranja
quando tudo se arruína

No Planalto Central
tudo se determina
Lá se criam as leis
e as aves de rapina

Lá muita coisa se faz
por detrás da cortina
Se planeja e se analisa
sorrateiramente na surdina.

Giano Guimarães

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Resistência

Se te ferram com o ferro da injustiça
Se te exploram com a face da cobiça
E corroem tua esperança na igualdade

E trucidam tua fé na bondade
Não baixe tua fronte para esse mal
Não se cale frente ao mundo desigual
Chute para longe o gás lacrimogênio
Enfrente o mal deste novo milênio
Vista a máscara da vingança
E na rua clame por mudança
Não desista da luta maior
Que anseia um mundo melhor
Não aceite a violência do Estado
Não deixe seu direito ser violado
Nunca deixe tua consciência ser monetizada
Não permita que tua essência seja abalada
Enquanto a voz do oprimido for negligenciada
Enquanto a parte pobre for rejeitada
Haverão greves, lutas, piquetes e protestos
Haverá descontentamento e manifestos
Assim será até o nascer de um novo tempo
Assim será até soprar do último vento.

Giano Guimarães

Poemas ao acaso