segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Um cordel para Tocantinópolis

Pra contar as belezura
Que a gente vê todo dia
Aqui nesta freguesia
Eu apresento o meu cordel
Feito de modo fiel
Num velho computadô
Com verdade e com amô
Falando da Boa Vista
Fazendo uma breve lista
Como receita um doutô

Se chama Tocantinópolis
A cidade onde nasci
Onde vivo e já vivi
Onde bola já joguei
Onde muito eu já brinquei
Debaixo de pé de manga
Procurando umas milanga
Para isca da pescaria
Pra onde ia no fim do dia
Com alegria e sem zanga

Foi uma infância feliz
A minha neste lugar
Eu não conhecia o mar
Mas tinha meu Tocantins
Que deságua nos Confins
Do meu sonho do presente
No rumo do sol nascente
É um rio frutuoso
Bonito é majestoso
Que traz vida a nossa gente

Nesta cidade importante
Do Bico do Papagaio
Eu tenho feito meu ensaio
Da poesia na terra
Pois meu coração nunca erra
O sentimento que sinto
Tão verdadeiro e distinto
Por este chão é sagrado
Na minha alma está guardado
E jamais será extinto

Nós ainda temos a feira
Temos festa do divino
Igreja tocando sino
O festejo e procissão
Quadrilha de São João
Gente na porta da rua
Fuxicando a luz da lua
Reparando a vida alheia
Igreja com missa cheia
Política e falcatrua

Ainda tem a rezadeira
Levantando arca caída
Tratando gente sofrida
Tirando todo quebranto
Na fé do espírito santo
E rezando o terço inteiro
Dentro de casa ou terreiro
Não morre essa tradição
Da reza, prece e oração
Do devoto verdadeiro

Também tem mulher de branco
Nego d'água e lobisome
Visage que vem e some
Capelobo pelo mato
Tudo isso existe de fato
Tem gente que não acredita
Mas quando vê vulto grita
De medo de assombração
Tem muita lenda no sertão
Falada e também escrita

O Ribeirão Grande ainda
É o refúgio da gente
Alívio pra nossa mente
Um descanso e diversão
Merece preservação
Todo tipo de cuidado
Pra se manter preservado
Para geração futura
Aproveitar a fartura
Deste ribeirão sagrado

Quando é boca da noite
A cidade vai parando
Luz do porte alumiando
Tobasa já apitou
Expediente encerrou
Os piti dogue e espetim
Vende lanche baratim
Tem gente que vai na praça
Para ver se o tempo passa
E o dia chega ao fim

No mês de junho começa
De noite aquela friage
Quando inicia a estiage
A paisage vai mudando
Vento forte assobiando
E muda a vegetação
Tempo do nosso verão
Muito sol, praia e turista
É gente na Boa Vista
Procurando diversão

E nas quadras de esporte
Nos campos de futebol
Na hora de se pôr o sol
O povo se movimenta
Joga, corre, treina e tenta
Viver de forma saudável
Nessa atmosfera agradável
Das praças desta cidade
Todos buscam felicidade
Isto é certo e inegável

Fim de semana tem música
Muito pagode e ousadia
Festa, seresta e alegria
Cantor, voz e violão
Gente indo pro ribeirão
Mergulhar na água fria
Pra renovar a energia
E curtir a natureza
Sossego e toda beleza
Neste chão de poesia

E é só aqui que tem
A rua do pau no mei
Quem um dia aqui já vei
Com certeza visitou
Foto lá até tirou
Abraçado com o pau
Ou apareceu no local
Pra saber se é verdade
Se o pau da localidade
Tá de pé e é real

E o povo no dia a dia
Dá sentido a este lugar
Indo cedo trabalhar
O professor, o ambulante
Vendedor, o comerciante
A doméstica, o barqueiro
O mecânico, o pedreiro
O estudante, o aposentado
Diferente dos apaniguado
Babão de politiqueiro

Terra de muitas aldeias
Da etnia apinajé
Povo que da terra é
O habitante primeiro
Que resiste guerreiro
Apesar do esquecimento
Falta de reconhecimento
Do absurdo preconceito
Luta para ter respeito
Justiça a todo momento

Muitos dizem que aqui
Já teve tudo no passado
O lugar foi apelidado
De cidade do já teve
E quem no passado esteve
Confirma esta sentença
Mas não é como se pensa
Muita coisa ainda tem
Pois tudo vai, depois vem
Para além da nossa crença.

Babaçu ainda nos rodeia
Esta palmeira imponente
Que dá um óleo potente
O azeite mais cheiroso
Pro tempero mais gostoso
Pra fazer o de cumê
É sabor que dá prazê
O Babaçu é cultura
A Quebradeira, bravura
Que nesse chão a gente vê

Esta portanto lhes digo:
É a Boa Vista eterna
Cidade antiga, muderna
Cheia de contradição
Muita história e tradição
Amada por sua gente
Que por ela muito sente
Um carinho verdadeiro
Este lugar por inteiro
Vive em nós eternamente.

Giano Guimarães

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