segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Cordel: A história de Akin e racismo permanente no Brasil

A história de Akin
E o racismo permanente no Brasil
Autor: Giano Guimarães

1

Neste cordel vou contar
A trajetória de Akin
Homem que foi retirado
Por gente muito ruim
Do seu lar, de sua terra
Para um desprezível fim.

Akin vivia em sua tribo
Na África Ocidental
Tudo estava indo bem
Até o começo infernal
Da vil escravização
Que o colocou em uma nau.

Os brancos chegaram
Com sua violência
Separando muita gente
Do berço e da convivência
Com aqueles que ficaram
Chorando a dor da ausência.

Jogaram Akin e outros
Num apertado navio
Estavam acorrentados
Passado fome e frio
Numa viagem sem volta
Para as terras do Brasil.

2

Sem quaisquer condições
O navio transportava
Homens, mulheres, crianças
Na viagem que matava
Às vezes vinte por cento
Dessa gente que chorava.

Que sentia a agonia
Muita revolta e tristeza
Por saber que nunca mais
Veriam a natureza
De seu belo continente
De seu lugar de beleza.

Quando chegaram ao destino
No litoral da Bahia
Foram logo sendo expostos
Como uma mercadoria
Sendo colocados à venda
Por todo tipo de quantia.

O escravo que tentava
Fugir ou se esconder
Era morto ou apanhava
Açoitado até morrer
Muitos preferiam a morte
Do que em correntes viver.

3

Akin pensou em lutar
E também até fugir
Mas resolveu esperar
O que teria por vir
Pra talvez na hora certa
O seu destino cumprir.

Ele então foi vendido
Para um senhor de engenho
Para o serviço da cana
Que era duro e ferrenho
Por quatorze horas de trabalho
Ele entregava seu empenho.

À noite na senzala
Acorrentado dormia
Com pouco na barriga
Pouca coisa ele comia
Seu corpo suportava
O máximo que podia.

O valor do ser humano
Nesse tempo foi perdido
Ser humano para o negro
Não fazia mais sentido
Pois só tratavam por gente
Quem branco havia nascido.

4

A humanidade cristã
Foi capaz deste horror
Fazer o outro acreditar
Que era um ser inferior
Os tratando com desprezo
Com seu ar superior.

Dessa forma justificavam
Todo tipo de maldade
Para um tronco levavam
O escravo sem piedade
Lhe aplicando chicotadas
Da maneira mais covarde.

Akin, certo dia acabou
Recebendo punição
Por defender um amigo
De uma injusta acusação
Akin acabou açoitado
Por seu algoz capitão.

Foram cinquenta chibatas
Que lhe fizeram sofrer
Lhe fazendo sangrar
Quase até desfalecer
Akin quase viu seu fim
Mas não era hora de morrer.

5

A fazenda em que vivia
Tinha muita natureza
Algo bom que alentava
O seu peito da tristeza
Da saudade que apertava
E da vida de dureza.

Ali também descobriu
Toda grandeza do amor
E na solidariedade
Dos amigos viu o valor
Força pra continuar
Mesmo diante da dor.

Ele descobriu também
Que havia resistência
Escravos que queriam
De uma vez a independência
Liberdade a todo custo
Para digna sobrevivência.

Com esses se juntou
Num plano para escapar
Do chicote, da prisão
Pra vida nova levar
Num quilombo conhecido
Lugar pra recomeçar.

6

Akin e seus companheiros
Prepararam pra fugir
Planejaram por meses
Pra nada errado sair
Para enfim a liberdade
Ter o gosto de sentir.

Na madrugada do dia
Da fuga já combinada
Conseguiram quebrar
As correntes apertadas
Despistar os vigias
E bater em retirada.

Por dentro da mata foram.
Para trás o cativeiro
Ia ficando distante
Mas a falta se deu ligeiro
E o capitão do mato
Saiu buscando o paradeiro.

De repente numa encruzilhada
O grupo se separou
Akin e outro companheiro
Que com ele ali ficou
Na hora foram alcançados
E Akin para outro falou:

7

- Vá embora, meu amigo
Pois agora eu vou lutar
Se esse capitão vier
Vou com ele duelar
Sozinho não vou morrer
Comigo ele vai tombar.

E assim aconteceu
Seu companheiro escapou
E Akin ao capitão
Com um golpe o derrubou
De cima do cavalo
E a briga começou.

O capitão estava armado
Com espada de tirano
Akin com muita coragem
Tinha seu coração humano
A força e habilidade
De um guerreiro Africano.

Ali eles pelejaram
Mas Akin não conseguiu
Outros algozes chegaram
Então Akin ali caiu
Tombou salvando a vida
De um escravo que fugiu.

8

A liberdade sonhada
Que Akin tanto buscou
Talvez em outra dimensão
Enfim ele a encontrou.
E quem sabe até justiça
Pra reparar a injustiça
Que na terra ele passou.

Akin, foi mais um de muitos
Que a escravidão condenou
Por esse mesmo sofrimento
Muita gente já passou
E até hoje a ferida
Do racismo não fechou.

Ainda que muita gente
Não queira reconhecer
Que ter consciência negra
É de fato compreender
Que o negro socialmente
Precisa se defender

Precisa se colocar
Nos lugares que são seus
Aviltados por séculos
Pelos brancos europeus
E até pelos irmãos de pátria
Cristãos e também ateus.

9

Os negros neste país
Que são a grande maioria
Permanecem a margem
Submetidos todo dia
Ao peso da desigualdade
E de uma falsa alforria.

Foram deixados sem rumo
Sem reparo e sem justiça
Largados à própria sorte
Marcados pela injustiça
Num país de pretos livres
Sem igualdade por premissa.

O negacionismo histórico
Só não prejudica mais
Do que aqueles que negam
Nesses dias atuais
O racismo permanente
Que é praticado demais.

Uns dizem que não há
O racismo estrutural
Que não existe intenção
No tratamento desigual
Mas vemos no dia a dia
Que o racismo é banal.

10

Todo dia os negros sofrem
Com o mal do preconceito
Por isso é necessário
Toda hora pedir respeito
Pois lutar pela igualdade
É muito mais que um direito.

Por tudo isso, neste dia
De celebração nacional
Vinte de novembro é
Data muito especial
Dia da consciência negra
De reflexão social.

Dia de Zumbi dos Palmares
Símbolo da reação
Contra toda violência
Brutalidade e opressão
Zumbi foi a resistência
Contra a escravização.

Portanto, que a consciência
Contra todo preconceito
Seja por todos alcançada
Que a empatia e o respeito
Seja atitude esperada
Como valor e preceito.

E que um dia a igualdade
Entre nós seja real
Sem que a cor interfira
Na condição social
Pra que a lei seja cumprida
Onde diz que toda vida
Perante a lei é igual.

FIM


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