domingo, 30 de setembro de 2018

Oficina de Literatura de cordel ministrada para professores do município de Estreito-MA.


Nos dias 26 e 27 de setembro tive a grata oportunidade de levar um pouco do que tenho aprendido com e sobre literatura de cordel para professores de português e artes da cidade de Estreito. Recebi o convite através da professora e Coordenadora Elana Abreu, que havia me prestigiado no lançamento dos meus cordéis em abril deste ano. Na oficina falamos sobre a história da literatura de cordel; cordelistas precursores e atuais; curiosidades sobre o Cordel; Sobre a estrutura do poema (verso, estrofes, métrica e rima); xilogravura; sobre o uso do cordel em sala de aula; sobre a escrita e leitura do gênero em nossa região; Técnicas para produção dos livretos, além de declamação de alguns poemas.


 
A oficina foi muito proveitosa e, creio eu, exitosa. Muitas dúvidas foram tiradas, trocamos ideias, rimos, aprendemos juntos, e no final o desafio foi cumprido: Um cordel coletivo foi escrito pelos participantes da oficina de forma belíssima.
Senti com essa experiência, que estou contribuindo um pouquinho com a educação através do cordel, pois tenho certeza que os conhecimentos que levei vão ajudar os professores lá na ponta, em suas salas de aula.
Poder passar para os professores um pouco da minha experiência com a escrita do cordel, foi uma grande oportunidade de começar a levar a ideia de formarmos novos escritores desta literatura e principalmente mais leitores em nossa região.
Me emocionou profundamente ao final da oficina, ouvir a declamação dos versos feitos ali na hora com a métrica redondinha, num poema cheio dos elementos que permearam a oficina, inclusive sentimento e emoção.
Quero agradecer a Elana, que foi fundamental para que a oficina tenha sido bem sucedida. Pois me deu todo o suporte, e esteve participando da oficina do começo ao fim, acreditando no meu trabalho, e principalmente, acreditando na importância do cordel como ferramenta de ensino, isso faz toda a diferença. 
Vamos seguindo, acreditando, colocando tijolinho por tijolinho, na construção deste sonho de poesia através da literatura de cordel.








quinta-feira, 6 de setembro de 2018

A tragédia no Museu Nacional

Dia de domingo trágico
Pra cultura foi fatal
Quase tudo foi perdido
Com fogo e desdém total
O Brasil perdeu memória
Imenso acervo da história
Do Museu Nacional

Bem no Rio de Janeiro
Na quinta da boa vista
Se encontrava o museu
Num palácio imperialista
Herança do poder real
Da coroa de Portugal
Do século oitocentista

Duzentos anos completou
Este museu tão importante
Que abrigava grande acervo
E encantava o visitante
No mesmo ano infelizmente
A tragédia vorazmente
Desfez tudo num instante

Foi triste ver as imagens
Pessoas desesperadas
Tentando salvar o possível
Entre as chamas inflamadas
Com choro e muita tristeza
As feridas com certeza
Serão pra sempre lembradas

O mais antigo museu
Deste país negligente
Da sua cultura e história
Zomba diariamente
Sem dar valor a memória
O povo vai na trajetória
De um futuro decadente

Um trabalho secular
Se acabou rapidamente
Sobrou pouco pra contar
A história de nossa gente
Entre as cinzas do passado
O dia será lembrado
No futuro infelizmente

As ciências hoje choram
Pois no acervo se perdeu
As coleções inteiras
Que o mundo já conheceu
Exemplares naturais
Obras e bens culturais
Se foram com o museu

Livros, jóias e múmias
Muitos fósseis e artefatos
Exemplares naturais
Esculturas e retratos
Um acervo sem igual
Teve um trágico final
Como mostraram os fatos

O museu recebia pouca
Verba pra manutenção
Não tinha investimento
Naquela instituição
Um governo incapaz
Para cultura só traz
Desgosto e decepção

Um deputado custa mais
Do que recebe por ano
Esse museu nacional
Muito vergonhoso e insano
Esse país sem cuidado
Sem política de Estado
Pra cultura é tirano

A importância de um museu
Para nossa educação
É de extrema relevância
Pra ampliar nossa visão
Fornecer conhecimento
Mais cultura, entendimento
Da história desse mundão

A cultura neste país
Tem tido pouco valor
Arte, tradição e memória
Sobrevivem pelo amor
De gente que na cultura
Se lança com a bravura
De um grande lutador

Cultura não rende votos
Assim como educação
Políticos tradicionais
Tem limitada visão
Para verem que a cultura
E a educação são a cura
Pra mudar nossa nação

Se a cultura e educação
Não tiverem preferência
Prioridade no país
Como não tem a ciência
Jamais iremos chegar
Ao esperado patamar
De um país de referência

País que deixa queimar
Sua história facilmente
Não preserva a identidade
Com o passado não aprende
No futuro está fadado
A repetir do passado
Os erros integralmente

Tristemente o museu
Ficou bem mais conhecido
Depois de sua queda
Vai sendo reconhecido
O inestimável valor
Bem aqui e no exterior
Tributo tem recebido

O que pode ser feito
Para tapar a ferida?
Nada trará de volta
O museu a antiga vida
Mas ele pode renascer
E esse país aprender
Com a lição recebida

Talvez daqui pra frente
As coisas possam mudar
Quem sabe mais importância
A cultura irá ganhar
Prefiro ser otimista
Quem sabe o país invista
Pra cultura melhorar

Por um país onde haja
Mais reverência à memória
Respeito à nossa cultura
E apreço pela história
Onde livros façam parte
Da nossa vida, e que a arte
Tenha seu tempo de glória

Que o povo possa ter
Um museu pra visitar
Um teatro pra assistir
Boa música pra escutar
Poesia em abundância
Mais valor e importância
À cultura popular

E agora eu me despeço
Num desalento total
Por este triste episódio
Pra cultura mundial
Deixo aqui minha mensagem
Como pequena homenagem
Ao museu nacional.

Giano Guimarães

Cordel A MENINA E O LIVRO - por Giano Guimarães

1

Uma história sobre páginas
Letras, palavras e versos
De como a leitura pode
Abrir novos universos
Que muitas vezes estavam
Tão distantes e dispersos

Ela havia ganhado um livro
Era um livro de poesia
Na primeira página um Poema
Que falava de fantasia
De como as letras revelam
O mundo que ela não via

Na segunda página ela
Leu um poema encantador
Dessa vez versando sobre
A mágica viva do amor
Do amor que jamais se rende
Nem mesmo na hora da dor

Na terceira página leu
Um poema de brincadeira
Daqueles de bola, de roda
De corrida na ladeira
Da mais pura diversão
Vivida na infância inteira

2

Na quarta página veio
Um poema diferente
Que falava sobre céu
E sobre a lua crescente
Eram versos das alturas
Das coisas que a gente sente

Na quinta página o poema
Tratava sobre saudade
Que quando aparece no peito
Toma conta e nos invade
É como estar faltando
Na gente uma metade

Na sexta página que abriu
A menina se encantou
Leu sobre uma gota d'água
Que outra pessoa derramou
Era água vinda dos olhos
De um poeta que chorou

Na sétima página então
Aconteceu o inesperado
Um poema com seu nome
Muito bonito e rimado
Ver seu nome num poema
Deixou seu dia encantado

3

Na oitava página abriu
Em formato de soneto
Um poema assustador
De um esquisito esqueleto
Que morava num castelo
Velho, já muito obsoleto

Na nona página a menina
Na leitura viajou
Pois era sobre Paris
Cidade que visitou
Em seus sonhos de lugares
Dos quais em ir já pensou

Na décima página havia
Versos lindos de amizade
Dizendo que ter amigo
É ter a sinceridade
O apoio e uma mão amiga
A toda hora de verdade

E foi na página onze
Que esse livro ganhou vida
Era como se a menina
Vivesse a palavra lida
Em cada poema novo
Uma alegria vivida

4

Na décima segunda página
Um poeminha surgiu
Era sobre um cachorrinho
Que de sua casa fugiu
Mas que foi encontrado
Antes de ir para o canil

Na página treze havia
Um poema sobre azar
Sobre sexta feira treze
E gato preto passar
Bem na frente da gente
Numa noite de luar

Na décima quarta página
Versos sobre educação
Era um poema sobre a escola
Que tinha como missão
Levar o conhecimento
Para todo cidadão

A décima quinta página
Tinha apenas uma linha
Um verso que dizia assim:
"Minha alegria é minha"
A menina ficou pensando
Que segredo ali continha

5

A página dezesseis
Sobre o tempo discorria
Dizendo como é rápido
Esse tempo que nos cria
E como ele também é
Um professor que nos guia

Na página dezessete
Um poema desastrado
Sem ter sentido nenhum
Onde um círculo quadrado
Rimava com o infinito
De uma casa sem telhado

Na décima oitava página
A menina completou
O verso que faltava
Sobre a luta que ganhou
A formiga contra o touro
Que bravamente lutou

No poema dezenove
Cada verso repetia
A frase "seja feliz"
Aquilo era a poesia
Mostrando a felicidade
No verso de cada dia

6

E na vigésima página
A menina se perdeu
Dentro do próprio poema
Que quarenta vezes leu
De tão lindo que achou
Sobre Andrômeda e Perseu

Na página vinte um
Versos sobre a natureza
Falando de fauna e flora
Com toda sua riqueza
Sua importância pro mundo
Além de toda a beleza

A página vinte e dois
Tratava sobre um lugar
Bem Distante do nosso
Chamado de Shangri-lá
Onde o tempo não passava
Como aqui vemos passar

7

Na página vinte e três
Um poema que ensinava
Como o hábito da leitura
Na vida tudo mudava
O poema dizia no fim
Que a leitura transformava

Na página vinte e quatro
O livro chegou ao final
Com um poema dizendo
Que o mundo é um quintal
Onde a simplicidade mora
E ser simples é vital

A menina fechou o livro
Logo depois o abraçou
Do lado do seu peito
Por muito tempo guardou
Um livro de poesia
Que jamais da mente tirou

8

A marcante literatura
Que trouxe felicidade
Para aquela menina
De uma pequena cidade
Também lhe trouxe um pouco
De mais profundidade

Esse foi só o começo
De seu amor pela leitura
Esse hábito tão belo
Que acrescenta e traz cultura
Que fortalece o interior
E até mesmo leva a cura

Fica aqui a mensagem
Desse cordel mensageiro
Para ser lido e levado
Para esse mundo inteiro
Como amigo da leitura
E dos livros um parceiro.

Giano Guimarães



Poemas ao acaso